Uma feira realizada durante a madrugada vende cigarros clandestinos em São Paulo. O “Feirão do Cigarro” acontece na Rua Prudente de Morais, no guia do bairro Brás, região central de SP. Os carregadores abastecem 50 barracas com cigarros piratas, imitações de marcas nacionais e o cigarro paraguaio legítimo. Os maços vêm do Paraguai, que produz 65 bilhões de cigarros por ano – 90% deles são mandados para o Brasil.
O cigarro clandestino chega bem mais caro em São Paulo. O maço, que no Paraguai custa R$ 0,18, é vendido por R$ 1 no Brasil. Os contrabandistas mantêm o centro de distribuição e a negociação é feita no escuro.
O próximo destino do produto é o consumidor, que pagará o dobro pelo preço. Ainda assim, um quinto do mercado em São Paulo é dominado pelo cigarro ilegal. Na periferia, a invasão do cigarro pirata é tão grande que o produto nacional quase desapareceu. Em um bar, ele é vendido por R$ 1,50. Já no mercadinho do bairro é R$ 0,50 mais caro.
O preço é o que determina o ritmo das vendas. “Um preço que, às vezes, é de um terço do cigarro nacional. Obviamente porque não paga um centavo de imposto aos cofres públicos”, explica Rodolpho Ramazzini, da Associação Brasileira de Combate à Falsificação.
Danos à saúde
A Universidade Estadual do Oeste do Paraná analisou 20 marcas de cigarros produzidos no Paraguai. “Nós vamos ver insetos, mas principalmente pedaços de metais e filamentos de plástico. Quando queima esse tipo de plástico, que é principalmente o PVC, ele libera uma substância chamada vinilclorado. Esse vinilclorado é cancerígeno, então inalando é uma causa importante de câncer pro pulmão”, explica o toxicologista Anthony Wong.
Quem fuma já encontrou de tudo dentro do cigarro. “Esse aqui tem vezes que você quebra o cigarro e acha perna de barata nele. Eu já achei”, conta um vendedor.
“Essas pessoas provavelmente vão ter problemas respiratórios dentro de poucos meses, até o máximo dois anos, provavelmente já teria alguns danos à saúde”, completa Wong. Há também bactérias. “Alguns deles têm em quantidades, de 260, 608 milhões de colônias por grama. Essa é uma quantidade absurda.”
Fiscalização
A Polícia Militar informou que fiscaliza o comércio ilegal e irregular, com a chamada “Operação Delegada” e afirmou que está preparando uma ação na região central de São Paulo com o apoio da Prefeitura e da Polícia Federal.
O comandante da PM no Brás, Renato Pereira Conceição, diz que a polícia vem fazendo um trabalho conjunto com a Prefeitura. “Como envolve a investigação com outros órgãos, nós precisamos montar um planejamento para estendermos nosso trabalho até esses locais onde eles vêm trabalhando.”
Para Edson Ortega, secretário do Gabinete de Segurança Urbana, é preciso fazer uma ação mais completa, aumentando a fiscalização nas fronteiras. “Não basta a Prefeitura chegar, fechar estabelecimento ou menos ambulante. Nós estamos fazendo as ações de forma encadeada, inclusive prendendo como a Polícia Federal já fez.”
Fonte: G1