A antiga fábrica de tecidos da rua Bresser, conhecida como Castelinho do Bresser, teve parte da sua estrutura destruída por uma reforma. O prédio, que fica na esquina com a Rua 21 de Abril, no Brás, na Zona Leste de São Paulo, está com as obras paradas há cinco meses por determinação da Prefeitura de São Paulo.
A construção foi adquirida por uma empresa de estacionamento e deve ser transformada em um centro de compras, como consta no alvará de aprovação e execução de obras emitido pelo município em abril deste ano.
Mas, após o início da demolição, que acabou com a parte de trás do prédio e ocupou metade da calçada lateral com placas de alumínio, a Subprefeitura da Mooca solicitou ao dono a apresentação de um projeto assinado por um novo responsável técnico, o que não foi feito até agora. O prazo vence em 60 dias.
O alvará diz que a responsabilidade pelo Castelinho é da empresa Park Naw Estacionamento. Nenhum responsável foi encontrado pela reportagem.
O comerciante Aluizio Hungria, de 62 anos, possui um estabelecimento ao lado do prédio e vê, de fora, o que o seu avô, Giovani Beccaria, construiu ser destruído agora. Beccaria, um tecelão formado na Suíça, resolveu montar uma fábrica de seda e trouxe parentes de sua terra natal, a Itália, para trabalhar com ele, já que não havia interesse dos familiares brasileiros.
“O meu avô era um dos homens mais ricos do Brás, conhecido como segundo Matarazzo. Ele fez o Castelinho virar uma referência”, conta o neto. Depois da morte de Beccaria, em 1958, os parentes venderam o imóvel.
Hungria teme que os novos proprietários estejam fazendo a reforma sem os cuidados necessários, principalmente para preservar a estrutura básica.
“A minha loja tremeu (quando ocorreram as demolições). Liguei para a Prefeitura para saber o que estava acontecendo. Também reclamei sobre a ocupação de parte da calçada porque atrapalha a circulação dos moradores”, diz.
Outro receio é que, com as obras interrompidas, o local seja invadido por moradores de rua e viciados em droga. A Subprefeitura da Mooca informou, em nota, que realizou uma vistoria e não encontrou irregularidades. O órgão disse ainda que as placas de alumínio na calçada não são irregulares.
O prédio de três andares foi construído em 1925 e possui o formato de um castelo. A construção virou referência do setor têxtil na região. Na parte interna há nove colunas que sustentam a estrutura e um elevador desativado. Na parte que foi demolida funcionava a fábrica de tecidos. No topo, há um relógio e um sino trazido da Suíça pelo velho Beccaria.
No Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo) consta um pedido de tombamento em análise, solicitado em agosto.
Raio-x: Castelinho da rua Bresser
Inauguração: 1925
Área total terreno: 736 m²
Área construída total: 1.284 m²
Altura: 14,75 m
Localização: Rua Bresser, 1.408, esquina com a Rua 21 de Abril, no Brás, Zona Leste de São Paulo
CRONOLOGIA:
1925
O tecelão italiano Giovani Beccaria (foto) construiu uma indústria para fabricar seda. O terreno foi presente de casamento do sogro. O material era distribuído para o estado de São Paulo.
1939
Por causa da 2 Guerra Mundial (1939-1945), a fábrica não conseguiu mais importar os fios do Japão e precisou abrir outra empresa, em Piracicaba. No local eram extraídos os fios de seda do casulo, que eram tingidos e depois enviados para a indústria de São Paulo.
1958
A indústria é vendida após o falecimento de Giovani Beccaria. Os familiares não quiseram continuar o negócio.
1970
O Castelinho da Rua Bresser é comprado por Najm Rachid El Andari. No prédio instala a Rendamira Indústria Têxtil.
2012
O imóvel é vendido para uma empresa de estacionamento, que pretende construir um centro de compras. As obras de reforma são iniciadas e parte do prédio é demolida. Após denúncias de vizinhos, a Subprefeitura da Mooca solicitou ao proprietário a apresentação de um projeto assinado por um responsável técnico.
Fonte: Rede Bom Dia