A Secretaria de Saúde de São Paulo desativou, na semana passada, a base do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), no bairro Armênia, na região central da capital. A reportagem apurou com funcionários do serviço de urgência que a sede local recebia cerca de 800 chamados por mês, o maior número de pedidos de atendimento se comparado às outras bases da capital.
Mesmo com uma grande demanda de pedidos de socorro, a direção do Samu em São Paulo não antecipou um plano alternativo para atender aos chamados que até então eram repassados para a base do Samu da Armênia, segundo os dois funcionários que pediram para não ser identificados. A base, segundo apurou a reportagem, é a campeã de atendimentos. Após ela, está a sede do Tatuapé, na zona leste da capital, com cerca de 400 chamados mensais.
De acordo com os funcionários ouvidos, as causas para a desativação da base Armênia não ficaram claras. Em um primeiro momento, o fechamento da sede local do serviço de urgência teria acontecido após a veiculação de reportagens na Rede Record sobre irregularidades no atendimento. Depois, os socorristas ouviram da direção do Samu que a mudança aconteceu por causa de uma investigação do Ministério Público.
Como relataram os empregados, a direção centro-oeste do Samu também convocou os funcionários da base Armênia e chegou a dizer, durante o encontro, que o fechamento da sede local acontecia para “desarticular” a equipe que trabalhava ali e que, supostamente, teria sido a autora das denúncias divulgadas pela TV Record. A Secretaria Municipal da Saúde afirmou, em nota, que a base Armênia do SAMU não será fechada definitivamente. A unidade passará por “uma reforma, previamente programada, para melhorar, cada vez mais, o atendimento prestado aos paulistanos e a estrutura de trabalho de seus profissionais”. O tempo para a conclusão das obras, entretanto, não foi informado pela pasta.
Os profissionais ouvidos pela reportagem disseram desconhecer a reforma que a pasta disse ter programado com antecedência.
“Irresponsabilidade grave”
A base do Samu da Armênia era responsável por atender chamados de toda a região central, além dos bairro do Cambuci, Mooca e bairro do Brás. Ainda de acordo uma funcionária, os profissionais deste local também já foram designados para socorrer moradores da Lapa e da zona leste, quando as ambulâncias dessas regiões estavam quebradas ou sendo usadas em atendimentos.
– É uma responsabilidade grave uma base que recebe 600 chamados por mês e cobre várias regiões da cidade ser fechada por motivos duvidosos. Todos os dias, o local atendia em média 16 chamados.
O atendimento dos pedidos de socorro era feito com duas ambulâncias. Em fevereiro deste ano, a reportagem flagrou ao menos seis veículos parados no pátio da base por causa de documentos irregulares e problemas mecânicos. Na semana passada, três delas permaneciam no local sem funcionamento, relatou um dos funcionários.
Outra pessoa que trabalhava no local chamou a atenção para a localização da base que foi desativada pela Secretaria Municipal de Saúde.
– A base ficava no número 704 da avenida dos Estados, uma das vias mais movimentadas da capital. A equipe trabalhava no meio da região central da cidade, o que explica o número grande de atendimento por mês.
Enfermeiros, médicos, motoristas e outros profissionais que trabalharam no setor administrativo da base foram orientados, na semana passada, a procurar outra base para trabalhar.
Na região central, os socorristas do Samu trabalham também nas sedes do Corpo de Bombeiros da Sé e da Luz. Os dois funcionários ouvidos pela reportagem afirmam que, nestes locais, é comum que os enfermeiros e médicos sejam destinados a fazer atendimentos de urgência como em incêndio ou desabamento. Por causa disso, acabam faltando profissionais para atender com rapidez casos de emergência clínica, como paradas cardiorrespiratórias e quedas.
A Secretaria Municipal de Saúde disse que as equipes da base Armênia serão remanejadas, temporariamente, para outras bases. Ainda de acordo com a pasta, as ambulâncias que foram encontradas paradas na unidade fazem parte de “uma reserva técnica” para manter outros 120 veículos em atendimento diário nas ruas.
Fonte: R7